Causas da displasia coxofemoral: genética, ambiente e fatores de risco
- Felipe Garofallo
- 21 de fev.
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A displasia coxofemoral é uma das doenças ortopédicas mais comuns em cães, caracterizada pelo desenvolvimento anormal da articulação do quadril, levando à instabilidade, inflamação, dor e, eventualmente, ao desenvolvimento de osteoartrite. Sua origem é multifatorial, sendo influenciada por fatores genéticos, ambientais e predisposições individuais que podem agravar a manifestação clínica da enfermidade.

A genética desempenha um papel crucial na etiologia da displasia coxofemoral, sendo amplamente reconhecida como um traço hereditário poligênico. Isso significa que múltiplos genes estão envolvidos na determinação da conformação articular, e sua expressão pode ser modulada por interações com o ambiente. Estudos demonstram que a transmissão hereditária da displasia coxofemoral ocorre de forma complexa, sem um padrão de herança mendeliana simples, o que dificulta a erradicação da doença apenas por meio de seleção genética. Raças de grande e gigante porte, como Labrador Retriever, Pastor Alemão, Golden Retriever, Rottweiler e São Bernardo, apresentam maior predisposição à displasia, mas cães de médio e pequeno porte também podem ser afetados.
O desenvolvimento da articulação do quadril depende de um equilíbrio delicado entre o crescimento ósseo e a integridade dos tecidos moles que sustentam a articulação, como ligamentos, cápsula articular e musculatura ao redor do quadril. Alterações na conformação óssea, como um acetábulo raso ou uma cabeça femoral inadequadamente encaixada, podem levar à instabilidade articular, um dos principais fatores para o desenvolvimento da doença.
Embora a predisposição genética seja um fator determinante, o ambiente e os hábitos de vida desempenham um papel fundamental na manifestação clínica da displasia coxofemoral. O crescimento acelerado em filhotes de raças predispostas pode contribuir para a doença, especialmente quando associado a dietas hipercalóricas e desequilíbrio na ingestão de cálcio e fósforo. O excesso de peso sobrecarrega a articulação em desenvolvimento, intensificando a instabilidade e aumentando a degeneração articular ao longo do tempo.
Além disso, a atividade física inadequada pode ser prejudicial. Exercícios de alto impacto ou movimentos repetitivos que sobrecarregam os membros pélvicos durante a fase de crescimento, como corridas excessivas em pisos escorregadios ou saltos constantes, podem predispor ao desalinhamento da articulação e favorecer a progressão da doença. Por outro lado, a inatividade extrema também é prejudicial, pois a musculatura ao redor da articulação se torna fraca, reduzindo a estabilidade da articulação do quadril e intensificando a sobrecarga nos tecidos moles.
Outros fatores de risco incluem alterações hormonais e sexuais, sendo que alguns estudos sugerem que a castração precoce pode interferir no fechamento das placas de crescimento, tornando os ossos mais longos do que o esperado e predispondo a desalinhamentos articulares. Além disso, a obesidade ao longo da vida do animal é um dos fatores mais impactantes na progressão da osteoartrite associada à displasia, agravando a dor e limitando a mobilidade.
Diante da complexidade etiológica da displasia coxofemoral, a prevenção da doença requer uma abordagem multifacetada. A seleção genética criteriosa, priorizando cães sem histórico familiar de displasia, aliada a uma nutrição balanceada e um manejo adequado da atividade física, pode reduzir significativamente a incidência e a gravidade da doença.
No entanto, mesmo com medidas preventivas, cães geneticamente predispostos ainda podem desenvolver displasia, exigindo acompanhamento veterinário contínuo e, em muitos casos, intervenções terapêuticas para garantir qualidade de vida ao longo dos anos.
Referências bibliográficas:
Smith, G.K., Biery, D.N., & Gregor, T.P. (1990). New concepts of coxofemoral joint stability and the development of a clinical stress-radiographic method for quantitating hip joint laxity in the dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, 196(1), 59-70.
Brass, W. (1989). Hip dysplasia in dogs. Journal of Small Animal Practice, 30(3), 166-170.Causas da displasia coxofemoral: genética, ambiente e fatores de risco
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